Por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém/PA
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
Arcebispo de Belém/PA
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
Deus fala sempre e é necessário apurar os ouvidos diante de suas
palavras. Muitas vezes o silêncio é a sua voz (Cf. Is 30,15; Sl 64,2),
outras muitas vezes manifesta-se através de pessoas por ele enviadas,
cujos gestos e respostas aos apelos do Senhor são altamente eloquentes.
Grita bem forte diante da história o sinal que é a Igreja, esposa de
Cristo, cuidada com amor por aquele que se entregou para fazê-la santa e
imaculada. Sinal de Deus é o fato de ser esta mesma Igreja constituída
por homens e mulheres marcados pela fragilidade comum a toda a natureza
humana, mas tocados pela graça de Deus, que os conduz progressivamente à
estatura de Cristo (Cf. Ef 4,13-16). O mistério de Cristo, luz do
Mundo, há de resplandecer na face da Igreja.
Tudo o que se diz da Igreja em geral pode ser aplicado em particular
àquela que foi escolhida e preparada pelo Pai do Céu para ser Mãe de seu
Filho amado, a Virgem Maria, Imaculada, Assunta ao Céu, sinal de Deus
para o mundo. Por outro lado, tudo o que se diz de Maria pode ser
aplicado à Igreja no seu conjunto, como graça e vocação (Cf. Ap 11,19;
12,1-10). Ao celebrarmos com a Igreja a Festa da Assunção de Nossa
Senhora, deparamo-nos com uma torrente de ensinamentos a serem colhidos
com sabedoria, ainda que não sejamos capazes de absorver toda a riqueza
dos mistérios de Deus, realizados em santa cumplicidade com a
humanidade, nos quais nos envolvemos, com Maria e do modo de Maria, Mãe
de Deus e nossa Mãe.
O fato de Deus ter preservado da corrupção a Virgem Maria, elevando-a
em corpo e alma, “assumindo-a” na “Assunção”, traz consigo a lição do
grande valor dado por Deus a tudo o que é humano. Não nos é lícito
desprezar o corpo humano, as realidades terrestres destinadas a
contribuírem à realização das pessoas, a beleza da natureza, o
relacionamento entre as pessoas. Tudo tem um destino de felicidade e de
eternidade, tanto que buscamos um novo Céu e uma nova Terra, onde Deus
será tudo em todos! É inclusive condição para a realização humana nesta
terra o olhar otimista dos cristãos em relação a toda a criação.
Cabe-lhes passar pelas estradas do mundo plantando e colhendo o bem,
recuperando a realidade e o sonho oferecidos por Deus no Livro do
Gênesis, pois ele nos quer felizes no Paraíso. Nossa vida na terra é ao
mesmo tempo saudade e esperança do Paraíso. Em Cristo, Salvador e
Redentor, tudo é recapitulado, ganha um novo e definitivo sentido.
Olhar para o grande sinal aparecido do no Céu e dar-lhe um nome –
Maria! – traz ainda a grande certeza de termos uma Mãe no Céu, criatura
como todos nós, mas escolhida, preservada do mal e elevada à comunhão
plena com a Trindade. Um privilégio e uma graça, que a tornou
missionária! Ela chegou na frente para mostrar-nos a estrada. Bendita
entre todas as mulheres (Lc 1,39-45) para nos mostrar o caminho da
benção. Ela é Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora da Glória, Nossa
Senhora do Presente e do Futuro! Junto de Deus está a nossa humanidade.
Estabeleceu-se um laço definitivo, pelo que nos podemos renunciar a
olhar para o Céu e caminhar para lá.
Olhando para aquela que foi assunta ao Céu, parece-me encontrá-la
realizada aqui na terra em muitas outras pessoas que trazem os traços de
Maria. Dentre tantas, no mês dedicado às diversas vocações na Igreja,
volto meu olhar para os homens e as mulheres que descobriram um chamado
semelhante ao de Maria, tornando-se sinais da plenitude do Reino de
Deus, na vida religiosa. Quando muitos põem toda a esperança nos bens da
terra, a vida religiosa proclama a plenitude de Deus, com a
bem-aventurança da pobreza, transformada em voto, entrega total de vida,
e diz a todos que Deus eleva os humildes, despede os ricos de mãos
vazias e sacia de bens os famintos. Com a virgindade e a castidade
vividas e testemunhadas, os religiosos e as religiosas reconhecem que
Deus olhou para a pequenez de seus servos e servas, e o proclamam senhor
de todos os seus afetos, dispostos a construir a fraternidade, não
constituindo para si uma família própria, mas suscitando a ternura da
família dos filhos de Deus. Ao mundo que luta pelo poder e o domínio de
uns sobre os outros, a vida religiosa proclama, com o desafiador voto de
obediência – “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua
palavra” – que Deus derruba do trono os poderosos. Nos religiosos e nas
religiosas o Senhor Jesus quer continuar a se fazer servo, obediente até
à morte, e morte de Cruz (Cf. Fl 2,1-11). São pessoas que podem ser
parecidas com Nossa Senhora, são homens e mulheres “apressados”,
desejosos de viver, desde já, os valores da eternidade. Sintam-se
reconhecidos e valorizados pela sociedade, pela Igreja e por todas as
pessoas que têm sede de Deus e muitos jovens experimentem o chamado a
seguir Jesus de perto nesta forma de entrega à Igreja e ao Reino de
Deus.
Com Nossa Senhora, com a Igreja e com as pessoas consagradas na
Castidade, na Pobreza e na Obediência, pedimos ao Pai, Deus e eterno e
todo-poderoso, aquele que elevou à glória do Céu, em corpo e alma a
Virgem Maria, que nos faça viver atentos às coisas do alto, a fim de
participarmos da sua glória.
Fonte: ZENIT
Texto retirado na íntegra de http://www.rccbrasil.org.br/espiritualidade-e-formacao/index.php/artigos/826-surgiu-um-grande-sinal-no-ceu
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